Crianças de até 2 anos de idade possuem uma quantidade de anticorpos ainda relativamente menor que as crianças maiores. Assim, seu sistema imunológico não está maduro o suficiente para defender o corpo com a mesma eficiência que os demais, por isso há tantos eventos seguidos de infecções especialmente respiratórias. O contato com outras crianças também influencia no aumento dessa frequência, assim como a falta de algumas vacinas que ainda não foram administradas.
Confira a
entrevista que a Pediatra Alergista deu para a Rede D’Or São Luiz com algumas
dicas importantes para o cuidado com seu pequeno.
1 - Muitas crianças ficam mais doentes depois que
começam a frequentar a escola, isso é comum?
Sim, é
bastante frequente. Principalmente quando percebemos a tendência atual, na qual
as crianças têm ido à escola um pouco mais cedo. Isso tem ampla relação com a
faixa etária e com a presença de outros fatores de risco que levem a
desenvolver infecção, até mesmo com a própria presença de atopia ou alergias
respiratórias.
2 - Quanto mais nova a criança, mais suscetível ela
está às doenças?
Sim, isso
é verdade. Os bebês até os 2 ou 3 aninhos de idade têm uma quantidade de
anticorpos menor do que o adulto, às vezes em torno de 50% a 60% menos. Em
virtude disso, e pelo fato de nem todas as vacinas terem sido administradas até
essa idade, existe uma vulnerabilidade maior aos processos de infecção que se
tornam mais frequentes e às vezes intensos.
3 - Há uma idade recomendada
para a criança ser colocada na creche?
Esse é um assunto bem polêmico, ainda mais na sociedade atual, na qual
as mães estão inseridas no mercado de trabalho. Existem duas dificuldades. O ideal
é, se a situação econômica e a estrutura da família permitir, adiar a creche
até os 2 ou 3 anos, em virtude da existência de uma menor quantidade de
anticorpos que é natural da idade e devido as vacinas ainda não estarem
completas, tendo a criança mais chance de infecção. Por isso, o ideal é esperar
a fase de lactente jovem terminar para que a criança frequente a creche. Não sendo
possível, a orientação é vacinar e ofertar a alimentação o mais saudável
possível.
4 – As infecções ocorrem devido
o contato direto com as demais crianças?
É mais uma característica natural dos bebês terem infecções recorrentes
não graves (4 a 6 vezes ao ano nos primeiros 2 anos). Nas outras faixas etárias
nós teremos outros problemas, como por exemplo: nas crianças de 2 a 6 anos já
começa o convívio mais próximo (trocam objetos de uso pessoal, se abraçam...) e
com isso acaba ocorrendo a transmissão dos quadros infecciosos entre as
próprias crianças, que estarão em ambiente fechado e geralmente confinados.
Inclusive no verão intenso, é muito difícil as escolas não usarem ar
condicionado, e isso acaba favorecendo um confinamento maior e a transmissão de
doenças, especialmente as de vias aéreas superiores e gastrointestinais.
5 - Há um limite para
recorrência desses casos? A partir de que idade a criança fica mais suscetível
a ter essas doenças e se há idade limite que ela fica mais tranquila e começa a
ter uma forma de controle para essas doenças?
Existe o limite para essa recorrência, sim. Nos primeiros 2 anos, espera-se
cerca de 4 a 6 episódios infecciosos e sem gravidade, algo que são resolvidos
com sintomáticos ou outro evento com antibiótico. Mas existem critérios que
chamamos de sinais de alerta, onde essa recorrência passa a chamar atenção do
Pediatra, e passa a ser importante a ação do especialista investigando se
existe uma baixa imunidade. Um sinal de alerta é se essa criança está usando ao
longo do ano mais do que 2 meses do uso de um antibiótico ou se, por exemplo,
ela teve uma infecção que demandou uma internação hospitalar para resolver.
Esses são sinais de alerta que levam o Pediatra a indicar uma pesquisa mais
profunda com o Alergista.
6 - Quais são as doenças mais
comuns e quais sintomas?
O que mais acomete as crianças são, sem sombra de dúvida, as infecções
nas vias aéreas superiores: a gripe ou resfriado (tosse, coriza, espirros) e em
consequência dessa gripe as complicações, como as sinusites, otites e até
pneumonia. A pneumonia acomete bastante as crianças em idade escolar,
principalmente os pequenos em torno dos 2 a 3 anos e depois a faixa dos
adolescentes. Os bebês têm mais infecções virais, especialmente no primeiro
ano, e principalmente as relacionadas ao vírus respiratório que dá um quadro um
pouco mais difícil, que às vezes precisa da intervenção do Médico Assistente
mais de perto.
7- Há vacinas preventivas para essas
doenças? Elas estão disponíveis no calendário de vacinação proposto pelo
Ministério da Saúde?
Sim. Hoje o Brasil é bastante eficiente no aspecto vacinal. O calendário
do Programa Nacional de Imunizações contempla a maior parte das doenças graves,
e hoje nós tivemos melhorias importantes com a adição da varicela que é da
catapora, uma doença de grandes complicações e muitas internação dos pacientes,
as pneumonias estão contempladas, a meningite contemplada com a do tipo C. Tem
atualmente uma única vacina que acho que ainda falta nesse calendário do
governo: a vacina da Meningite contra a Meningite Meningocócica, que acredito
que ao longo dos anos ela será incluída.
8 - Manter as crianças
hidratadas e bem alimentadas pode contribuir nessa prevenção?
Sim. Adequadamente sim. Hoje a gente tem fatores muito importantes e a
saúde é o resultado de várias ações, onde principalmente entra, além da vacina
e a ida regular ao Pediatra, a alimentação. Os nutrientes, os antioxidantes, as
vitaminas fazem com que a criança tenha uma imunidade natural, além daquela
adquirida com as vacinas. E o hábito de lavar as mãos também reduz a
transmissão de infecções em todos os âmbitos.
9 - Quais são as principais
dicas para os pais? Existe alguma outra forma de aumentar a imunidade, além da
alimentação e hidratação?
É muito importante transmitir para as crianças pequenos hábitos que
ajudam na proteção, como por exemplo lavar as mãos. Esse hábito se mostra muito
efetivo, porque a criança leva muito a mão à boca. Quando a criança maior que 6
anos implementa essa prática de lavagem das mãos, já ajuda a interromper uma
cadeia de transmissão de doenças bastante importantes, principalmente quando
saírem de coletivos, de locais públicos e antes das refeições. Isso já vai
diminuir bastante a veiculação dos agentes infecciosos. Outra boa prática, se a
criança for um pouco maior, é o uso do álcool gel. Ela pode levá-lo na mochila,
com isso facilitando essa higienização. Nas meninas a atenção importante é com
relação aos objetos de uso pessoal, principalmente escova de cabelo, devido a
pediculose (piolho) ser transmitida mais facilmente desta forma. São regrinhas
simples do dia a dia que podem facilitar a redução das infecções.
10 - É adequado levar a criança
doente para a escola? Quando deve-se levar e quando deixar em casa? Tem algum
sintoma principal para optar em deixá-la em casa?
Isso depende da realidade da família. O ideal é a criança ficar em casa
com a família, porque ela terá aquele mal-estar, astenia (fraqueza), febre,
demandando um pouco mais de cuidado e menos ativa também. Eu considero mais
relevante que a criança, iniciando um quadro infeccioso, fique em casa. Até
para o benefício dela e do grupo, da coletividade. Porque a ida da criança a um
ambiente aonde ela pode transmitir aos colegas ainda sem diagnóstico é um pouco
ruim não só para ela, mas como para o ambiente todo que a cerca, que pode ser
acometido por um surto ou até por uma infecção um pouco mais grave. Se a
família tiver condição de cuidar em casa, o ideal é não ir a escola.
11 - É correto ou é mito dizer
que é importante a criança ter algum tipo de doença para desenvolver anticorpo
e reforço do sistema imunológico?
Essa era uma prática antiga. Antes da vinda do calendário vacinal
adequado nós tínhamos poucas opções de proteção. Hoje não tem muito sentido
expor a criança a uma doença prevenível. Hoje as vacinas fazem uma cobertura
bastante ampla dos germes mais comuns, então você expô-la desnecessariamente a
uma infecção não é recomendável. Naturalmente, as infecções irão ocorrer ao
longo da vida e conforme a idade dessa criança avance e toda sua carteira de
vacinação esteja completa, ela terá uma imunidade adquirida de forma segura.
Lembrando que todo processo infeccioso exposto desnecessariamente, pode evoluir
mal, dependendo do agente.
12 - A condição climática da
escola também é um fator relevante? Quais cuidados são necessários para o
ambiente ficar mais seguro para as crianças?
A questão de temperatura dos ambientes fechados é bastante relevante.
Se a criança for alérgica, não tiver seu quadro alérgico bem tratado e estiver
confinada numa ambiente com ar condicionado e temperaturas muito baixas, esse
ressecamento das vias respiratórias propicia ainda mais a complicações
recorrentes da infecção. Outra situação importante para os pais discutirem com
as escolas, é na época do ano de inverno e outono utilizarem mais as janelas
abertas, para evitar o aumento das infecções trocadas entre as crianças no
ambiente.
13 - Existe alguma dica para a
escola ou creche conseguir evitar um pouco esta contaminação ou é um pouco
inevitável as crianças ficarem doentes, decorrentes do contato?
Seria bom uma formula mágica, entretanto, é bom frisar que o mais
importante é a boa saúde que deve ser conquistada ao longo de todos os anos,
indo ao Pediatra, cumprindo todas as etapas do calendário vacinal e com a
melhor alimentação possível, para que essa criança tenha uma imunidade natural
e adquirida somadas para um bom desempenho de sua saúde. Além das boas práticas
de higiene como a lavagem de mãos e o uso do álcool gel que ajudam e as escolas
podem disponibilizar esse álcool gel nos corredores, muitas já fazem isso.
Podem ser somadas às boas práticas algumas Campanhas, como o uso de repelentes
prevenindo doenças como a Dengue, a Zika e a Febre Amarela. O cuidado contínuo
precisa ser uma parceria entre escola e família.
14 - Tem algum cuidado que os
pais podem ter, caso a creche possua aqueles brinquedos de uso comum?
É um pouco difícil, porque não há uma norma proibindo esses brinquedos
coletivos. O ideal é que se fiscalize e utilize um brinquedo lavável, evitando
resíduos que podem levar a uma contaminação maior das crianças. Hoje as escolas
e creches estão mais atentas a isso e tem-se evitado o uso de materiais que possam
causar danos às crianças.
É importante que os pais tenham a rotina de levar seus filhos ao
Pediatra, para que se faça uma medicina preventiva e nas situações que se tenha
risco ou dúvidas, tenha uma referência de uma Emergência Pediátrica que possa contar
para que sua criança possa sempre ser bem atendida.
A Emergência Pediátrica do Hospital Barra D’Or além de possuir
profissionais altamente qualificados, tem a proposta de unir o acolhimento e
agilidade no atendimento a bebês e crianças, sem perda de qualidade.
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