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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Alzheimer: uma doença que não pode cair no esquecimento

Pequenos esquecimentos no dia a dia são comuns para as pessoas que levam uma vida agitada. Mas, quando são frequentes e associados a idade, é preciso atenção, pois pode ser o indício de um caso de Alzheimer. A doença, citada como “mal da saúde mental”, é responsável por 70% dos casos de demência, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em um universo de 47,5 milhões de pessoas. A estimativa é de que até 2050 cerca de 130 milhões de pessoas recebam o diagnóstico de Alzheimer, em sua maioria, idosos acima de 65 anos.

Como a causa específica do Alzheimer ainda não é conhecida, assim como sua cura, o tratamento visa atenuar os sintomas e garantir qualidade da vida ao portador da doença. No entanto, cuidar de um idoso com Alzheimer pode ser extremamente desgastante. Por isso, multiplicam-se os grupos de apoio a familiares e cuidadores, para a troca de experiências, como o que acontece mensalmente no Hospital Rios D’Or. A iniciativa, gratuita, tem como foco orientar e esclarecer as pessoas que estão diretamente ligadas ao cuidado do paciente com Alzheimer.



- O Alzheimer é uma doença que não atinge apenas o paciente, uma vez que as pessoas que estão diretamente em contato com a pessoa com o diagnóstico acabam sendo afetadas emocionalmente. Além dos esquecimentos e/ou repetições de histórias do passado, características iniciais do processo, a pessoa com Alzheimer tende, em estágios mais avançados, esquecer como são executadas as tarefas pessoais. Portanto, o familiar precisa cuidar também do próprio bem-estar emocional para a condução do cuidado e, incentivar, sempre que possível, que o paciente permaneça em suas atividades – destaca a psicóloga Mariana Guedes, líder do Grupo de Apoio a Familiares de Pessoas com Alzheimer, no Rios D’Or.

Quando Rosângela Vasconcelos ficou sabendo que sua mãe tinha Alzheimer, há 12 anos, foi um momento muito delicado. Entre consultas com neurologistas, exames e todos os cuidados direcionados a sua mãe, Dirce Vasconcelos – hoje com 84 anos, Rosângela percebeu a necessidade de também buscar apoio para lidar de maneira melhor com toda esta situação. Foi quando teve conhecimento do Grupo de Apoio a Familiares de Pessoas com Alzheimer, no Rios D’Or, e, desde então, participa assiduamente.

- Ao participar dos encontros tenho uma sensação de partilha muito importante. Percebo que eu e minha família não estamos sozinhos nesta realidade e que a troca das histórias acaba confortando todos os participantes. As orientações repassadas pelos especialistas do Rios D’Or são significativas para a conduta do cuidado e também confirmam que muito do que já fiz para proporcionar melhor qualidade de vida à minha mãe fiz foi acertado, inclusive, estimulando a prática de atividades – relata Rosângela.

A manutenção de atividades do cotidiano, assim como a prática de exercícios físicos, são alternativas para manter o paciente com Alzheimer ativo, estimulando os comandos do cérebro e, em alguns casos, retardando o esquecimento. Estudos da neurociência, inclusive, já comprovaram que a prática de exercícios físicos é capaz de diminuir o risco de desenvolver diversas doenças, e o Alzheimer é uma delas.

- Curiosamente, a atividade física parece ter mais influência positiva no envelhecimento cerebral e na prevenção das demências do que a manutenção de atividade intelectual pós-aposentadoria, algo que sempre foi muito repetido. Atos simples como subir escadas e caminhar podem reduzir os riscos de desenvolvimento da doença.

Além da prevenção, a prática de exercícios físicos também pode minimizar os sintomas do Alzheimer, melhorando a “comunicação” entre as áreas cerebrais afetadas pela doença. O exercício aumenta tanto a expressão gênica quanto a proteína do BDNF, substância que favorece a formação dos neurônios – explica Paulo Mattos, médico e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR).

- É indicado que familiares e cuidadores permitam que os pacientes com Alzheimer continuem desempenhando suas atividades, desde que monitorados, pois sabe-se que a precisão dos movimentos, inclusive dos reflexos, é reduzida devido a doença. Assim, é importante que convivam com outras pessoas, conversem, dancem, leiam e façam outras atividades, mantendo o corpo e a mente em movimento – afirma a fisioterapeuta do Rios D’Or, Patrícia Fernandes.
 
Identificar dentro os hábitos anteriores ao diagnóstico as ações preferidas é uma das alternativas indicadas pelos especialistas. Rosângela recordou que sua mãe sempre gostou de dançar, e, em um dos encontros com as bisnetas percebeu que Dirce sorria ao ouvir cantigas de roda. Esta foi a iniciativa para que a brincadeira se tornasse constante em casa, beneficiando a interação familiar e, principalmente, proporcionando momentos de alegria e movimento para Dirce.

Clínica da memória - O Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) mantém no Rio de Janeiro o serviço “Memory Clinic”, primeiro do estado a oferecer os diversos exames necessários para o diagnóstico de demência. Com o intuito de justamente avaliar indivíduos com queixas de memória, o serviço utiliza os protocolos mais modernos de investigação, como avaliação clinico-neurológica, neuroimagem e neuropsicologia, além do exame de líquor.

- Pelo fato do IDOR ser um centro de pesquisa, muitas investigações precisam esclarecer aspectos importantes sobre demência. Por exemplo, quais fatores determinam se o estágio intermediário, o Comprometimento Cognitivo Leve, irá progredir para demência ou não – finaliza o Paulo Mattos.

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