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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Esquizofrenia pode ser prevenida, diz especialista



















Um dos transtornos psicológicos mais severos e que atinge 1% da população, caracterizado por alucinações, delírios e alterações de pensamento, pode ter seus sintomas diminuídos e até ser prevenido. A afirmação é de um dos psiquiatras mais renomados do mundo: Philip McGuire, diretor do departamento de estudos de psicoses do King's College, na Inglaterra, que concedeu uma entrevista para a Folha de São Paulo, citando algumas dicas para que qualquer pessoa possa se precaver de forma a evitar o surgimento da doença no futuro.

Esquizofrenia pode ser prevenida, diz especialista

A esquizofrenia, transtorno mental cercado de estigmas e que atinge cerca de 1% da população, pode ser prevenida ou, pelo menos, ter seus sintomas diminuídos.

É o que apontam as novas pesquisas, segundo o psiquiatra Philip McGuire, diretor do departamento de estudos de psicoses do King's College (Inglaterra), que conversou com a Folha durante o 28º Congresso Brasileiro de Psiquiatria.

Folha - Como é possível prevenir a esquizofrenia?

Philip McGuire - A ideia é tentar prevenir o começo da doença. Geralmente se espera que ela se instale, e só então começa o tratamento. Mas, nos últimos anos, temos nos perguntado se é possível identificar sinais precoces para preveni-la.

Há sinais da esquizofrenia que ainda não se manifestou?


Sim. A esquizofrenia geralmente aparece por volta dos 20 anos. Antes disso, há uma 'fase prodrômica', caracterizada por sintomas mais brandos: algum grau de isolamento, sinais atenuados de uma paranoia, mas que não chegam a mudar o comportamento da pessoa. São sinais sutis que podem ser detectados antes do primeiro surto.

Como seria o tratamento nessa fase precoce da doença?

Há estudos que mostram que há chances eficazes de prevenir a doença se ela for detectada na fase prévia. A intervenção psicológica e o uso de antipsicóticos e ansiolíticos em doses menores poderia reduzir os sintomas e até prevenir o aparecimento da psicose. Mas as pesquisas ainda estão em fase inicial.

Muitos transtornos não acabam encobertos na mesma designação de esquizofrenia?

Esse é um grande debate. Há um esforço para classificar as desordens psicóticas, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar. Há quem pense que elas são tão próximas que são a mesma psicose, mas com dimensões diferentes. E como a classificação é feita por observação clínica, deixa o diagnóstico aberto a interpretações.

Em 2001, o Brasil aboliu os manicôminos, com a reforma psiquiátrica. O senhor é contra internar esquizofrênicos?


Algo similar aconteceu na Inglaterra, há 20 anos. Transferiram os serviços clínicos para a comunidade e só os pacientes mais graves são internados. A ideia é positiva, mas tem desvantagens, principalmente para a família do paciente. Tratá-lo acaba se tornando um fardo, porque haverá alguém sobrecarregado cuidando dele. Há também um problema logístico para os serviços clínicos: os médicos têm de ir até o paciente na comunidade, em vez de ficarem no hospital.

O consumo de maconha pode desencadear a esquizofrenia?

Há controvérsia se o uso regular aumenta os riscos. Temos estudos que sugerem que quem fuma maconha, especialmente antes dos 15, pode aumentar o risco de desenvolver a esquizofrenia no futuro. Mas é controverso. O certo é que, no portador de esquizofrenia que consome a droga, os efeitos são piores.

A agressividade faz parte da doença ou isso é mito?

Na média, esquizofrênicos são pouco suscetíveis à violência. Porém, muitos casos de pacientes que cometem atos violentos viram notícia, e o resto leva a fama.

Mas, no geral, eles são retraídos, não querem interações. A relação entre esquizofrenia e violência não é verdadeira.

A violência poderia ser atenuada pelo tratamento?

Sim, porque a medicação atua nos sintomas. Se o paciente está tendo um delírio persecutório, então ele pode estar mais suscetível a se comportar de forma violenta.

O jornalista GUILHERME GENESTRETI viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria

Confira a entrevista no portal Folha Online.

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