Sobre o que você quer saber?







terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Doar faz bem




O ano de 2012 começou com muitas tragédias. Enchentes, incêndios e desabamento de prédios fez com que pessoas perdessem tudo o que tinham. De prontidão, pudemos ver que toda a população se comove nestas horas doando alimentos, roupas e o que mais for necessário. Mas será que tragédias como essa realmente despertam o lado mais humano das pessoas?

A ciência nos mostra que sim. Fazer o bem ao próximo é bom para a saúde, não só de quem recebe, mas também de quem pratica a boa ação. Alguns são os benefícios que podem ser constatados em quem tem atitudes solidárias, como redução do estresse, fortalecimento do sistema imunológico, alívio de tensões e aumento da expectativa de vida.

Mas, como ajudar ao próximo pode fazer bem à saúde?
Todos esses ganhos acontecem porque a prática de uma boa ação ativa uma área do cérebro chamada mesolímbica, que é aquela relacionada ao sistema de recompensas.

È o que explica o neurocientista e pesquisador do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa:

“Ao ajudarmos o próximo, ativamos a mesma área relacionada a situações de prazer e bem-estar, como comer chocolate ou fazer sexo.

Foi o que mostrou um estudo realizado por mim e outros pesquisadores, que submeteu 19 voluntários à ressonância magnética funcional, enquanto decidiam se guardavam para si ou doavam para uma instituição filantrópica os US$ 128 que tinham acabado de ganhar. Em média, os participantes doaram, anonimamente, metade do que haviam recebido.

Mesmo tendo doado apenas pelo prazer de doar, sem querer impressionar a pessoa presenteada para obter prestígio, esses voluntários tiveram a região do córtex subgenual, relacionada às ligações interpessoais de longo prazo, como aquelas entre amigos e casais, intensamente ativada. Essa área do cérebro está ligada a sentimentos tão prazerosos quanto o da mãe ao olhar amorosamente o seu bebê, o que indica mecanismos cerebrais que explicam emocionalmente a razão de uma pessoa ter atitudes altruístas mesmo sem nenhum ganho pessoal.

Esse sentimento de apego ao outro pode explicar, inclusive, o fato de que, em momentos de grandes dificuldades, o homem costuma se sentir mais engajado socialmente, como se vê durante catástrofes e no caso de tragédias, como a do atentado às torres gêmeas em Nova York. E pode, também, ter influenciado diretamente na estabilização da espécie humana.

Se pensarmos nas primeiras sociedades tribais, em que as pessoas começavam a seguir princípios religiosos, respeitar rituais e se voluntariar para fazer alguma coisa pelo grupo, como construir uma ponte, por exemplo, podemos deduzir que o sistema de apego foi remodelado de forma a nos envolvermos com causas abstratas. Isso foi fundamental para o benefício do grupo e a coesão social, favorecendo a espécie humana como um todo.

Ainda que fazer o bem seja tão positivo, é possível perceber que as boas ações, infelizmente, não são a regra na maioria das sociedades. A explicação para isso estaria no fato de que, apesar de termos uma predisposição biológica a valorizar a doação, existem diferenças entre as pessoas que só podem ser explicadas pela variabilidade genética, que torna uns mais capazes de sentir empatia pelo outro. Além disso, ao se analisar uma sociedade de forma geral, é possível concluir que a cultura também faz diferença, pois os valores de um povo são capazes de encorajar as pessoas a terem atos mais altruístas ou mais agressivos.

Outra questão decisiva nesse aspecto é a dos exemplos. Podemos fazer doações anônimas, mas quando sabemos que outros também as fazem, somos ainda mais levados a realizá-las, mesmo que anonimamente, pois encaramos situações que questionam nossos próprios valores e a autoestima. Quando a ajuda envolve imagem social, então, soma-se mais uma motivação, não altruísta em princípio, mas que, nesse contexto, promove decisões altruístas.”

Nenhum comentário: